CIRCULAR Nº 01 / 2024
Eleição de Deus
Caros irmãos, A paz de Deus.
O ser humano foi dotado por Deus do direito de fazer escolhas, sendo este livre arbítrio uma característica permanente (indelével) de toda a criação inteligente — tanto dos anjos, quanto dos homens. Essa é a razão de existirem salvos e perdidos!
É inegável que o Senhor Deus não deseja que os homens se percam, antes, pelo contrário, deseja que eles se arrependam de seus maus caminhos e se convertam, conforme está escrito:
“Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade”. (1Tim 2:4)
“E nos mandou pregar ao povo, e testificar que Ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos. A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome”. (At 10:42 e 43)
Precisamente por causa da prática do livre arbítrio é que houve a separação do homem com Deus. Essa queda horrível aconteceu pela desobediência de Adão e Eva, quando deram ouvidos à serpente e foram expulsos do Éden. Tal corrupção se estendeu sobre todos os homens, vindo todos a morrer. A partir daí as forças do mal prevaleceram, mantendo o ser humano subjugado à ação das trevas e do pecado.
Esse domínio da iniquidade sobre todos persistiu até a vinda de Jesus Cristo, quando, então, foi realizada a expiação dos pecados e a reconciliação com Deus, capacitando assim, os cristãos com poder e autoridade sobre todas as forças contrárias ao bem, e dando a eles direito aos dons e as virtudes do Espírito Santo.
Deus deseja que todos se arrependam, mas não os obriga a isso, deixando-os livres para decidirem (2Cor 3:17).
Por isso está escrito:
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.” (1João 1:9)
“Portanto eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens.” (Mat 12:31)
Portanto, todo aquele que peca e se arrepende e muda seus caminhos, não permanecendo na iniquidade, pode alcançar o perdão divino (1João 1:9).
Nesse contexto, segue uma explicação resumida relativa à eleição celestial, a qual devemos compreender, em primeira instância, como sendo coletiva, ou seja, referindo-se à Igreja Cristã, fiel e universal — também figurativamente conhecida como o corpo de Cristo — a qual é eleita incondicionalmente.
Não obstante disso, a eleição do ser humano, enquanto indivíduo, acontece somente quando o crente passa a professar o cristianismo pela fé, se tornando parte integrante do corpo de Cristo — a Igreja (At 20:28). Pela fé, o cristão recebe o Espírito Santo, que o assiste e o fortalece, habitando nele, tornando-o parte integrante do corpo de Cristo e fazendo dele um eleito.
A partir desse ponto, sucedem responsabilidades recíprocas nessa eleição, tanto de Deus para com o fiel, quanto do fiel para com Deus (Rom 8:29 e Ped 1:1 a 11).
Está escrito:
“Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.” (2Tim 2:19)
Novamente lemos:
“Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra.” (2Tim 2:20 e 21)
Dessa forma, a eleição incondicional para a salvação e santificação da Igreja de Cristo — entendida aqui Igreja como o corpo espiritual de Cristo, ou seja, o conjunto universal de todos os fiéis santificados — está determinado pelo Altíssimo, sendo imutável. Está estabelecida para sempre e não pode ser revogada. Contudo, o ser humano — enquanto indivíduo — para se assegurar e tomar parte nessa eleição, depende de sua conduta pessoal na fé, devendo manter acesa a chama desta confiança absoluta em Jesus Cristo. Para isso, necessita permanecer em união com Cristo, sem se desviar, preservando a condição de membro vivo desse corpo espiritual.
Essa verdade doutrinal se assenta no ensino bíblico, pois a Santa Escritura nos mostra basicamente duas possibilidades de apostasia: a doutrinária, pela negação dos ensinamentos de Cristo e/ou de qualquer dos Apóstolos; e a apostasia moral, quando o cristão regressa ao pecado, não se arrependendo e não retornando a uma vida casta e pura, se fazendo escravo da iniquidade (Is 29:13 – Mat 23:25 a 28 – Rom 6:15 a 23 e Rom 8:6 a 13).
O desígnio eterno de Deus para com a Sua Igreja é que sejamos retos de moral, que tenhamos um caráter sem mancha, que sejamos limpos de mãos e puros de coração, que sejamos incensuráveis e santos (Rom 8:14, Gal 5:16 a 25).
Para tanto, para sermos achados inculpáveis perante Deus, deveremos nos manter constantes e seguros na fé, sem nos movermos de nossa bendita esperança do Evangelho (Col 1:22 e 23).
A força que vence a iniquidade e leva à santificação vem do Senhor, a nós pertence a escolha, a vontade, o desejo e a busca em servi-Lo de coração sincero. A operação das obras santas provém do Espírito Santo.
As Santas Escrituras nos ensinam que a condenação eterna resulta exclusivamente das más escolhas humanas — com suas inclinações orientadas para o pecado, sem arrependimento genuíno, não experimentando eles, em si mesmos, o efeito maravilhoso da restauração proporcionada pelo perdão oferecido no sacrifício de Jesus Cristo em nosso lugar. Dessa forma, a perdição humana não é uma determinação seletiva, uma sentença discriminatória lançada sobre um grupo específico de pessoas. Antes, pelo contrário, é resultado das escolhas de vida feitas por cada indivíduo, não se configurando jamais numa resolução inabalável, sinistra e irrevogável do Altíssimo sobre um conjunto predeterminado de seres humanos, marcados para serem condenados.
Contudo, importa ressaltar que para ser salvo não basta uma simples confissão de fé, não adianta o crente dizer que crê em Jesus e afirmar que Cristo é o seu Senhor, levando uma vida dissociada da santidade. A fé inclui afastamento do pecado — santificação — pela obediência à Palavra de Deus. Ela se expressa num dado momento na vida do cristão, quando da aceitação de Cristo Jesus como único e todo suficiente Salvador, e deve seguir a vida inteira crescendo e se firmando no coração do convertido (Jo 1:12), como se lê:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci: apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mat 7:21 a 23)
Pode-se até mesmo perder o pouco que se obteve de Deus, ao se levar uma vida libertina:
“Porque ao que tem, ser-lhe-á dado; e, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.” (Mar 4:25)
Temos pleno conhecimento de que:
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2:8 e 9)
Todavia, uma vez salvos pela fé, importa-nos fugir do pecado, direcionando a nossa vida cristã à santidade requerida pelo Senhor, crescendo sempre na verdade e na graça divina:
“Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” (Heb 12:14)
Somos constantemente vítimas de diversos ataques espirituais, pelos quais somos tentados e provados. Mas, à medida que resistimos as tentações e perseveramos na fé em meio às provações, revelamos a nossa fidelidade pessoal ao Senhor.
As forças espirituais malignas, que nos atacam e trabalham em prol da nossa renúncia à fé cristã, acabam nos concedendo a oportunidade de demostrar que a nossa fé e o nosso amor a Deus são verdadeiros e irrevogáveis.
Pela fé, o Altíssimo nos faz aptos a vencer o mal, nos concede as forças necessárias para sermos vitoriosos. Contudo, aquele que se entrega a iniquidade torna-se um vaso de desonra; e a sua queda não acontece porque Deus falhou em protegê-lo e, sim, porque ao sondar o seu coração, Deus não encontrou o firme desejo de resistir ao mal, nem o temor necessário para se evitar a perversidade, senão uma livre disposição de se entregar ao pecado.
A santidade, ou semelhança com Cristo, é o padrão exigido, o modelo de homem que deve ser buscado a partir do poder dado ao cristão quando ele recebe o Espírito Santo em resposta a sua fé em Cristo. Desse modo, a santidade não é uma busca de salvação pelas obras, pelo contrário, é a fé gerando obras de salvação no verdadeiro cristão. Sem ela ninguém verá o Senhor.
Caso a fé não impulsione o crente à santidade, não havendo nele nenhuma mudança significativa interior, essa tal fé está morta em si mesma, não se configurando numa fé apta a salvar, senão em aparência e engano. Vejamos:
“Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” (Tg 2:26)
Por essa razão, todos devem se manter na santidade, na pureza e na firmeza da fé, evitando se deixar levar pelos discursos tranquilizadores que garantem salvação incondicional a todo aquele que um dia creu em Jesus Cristo. O apóstolo Pedro ensinou, alertando sobre o risco de se cair, resultando isso num fracasso na marcha para a vida eterna (2Ped 3:17). O apóstolo Paulo também admoestou os irmãos de Corinto a terem o cuidado de não receberem em vão a graça de Deus:
“… vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão.” (2Cor 6:1)
Aqui o Apóstolo aponta o risco de se perder a graça, portanto perder a salvação, visto que somos salvos pela graça, mediante a fé. Ora, se a graça for recebida infrutiferamente, improdutivamente, inutilmente, ela não implicará na salvação de quem a acolheu desse modo. Igualmente, alerta sobre o risco de se perder a habitação do Espírito Santo em si mesmo, dizendo:
“Não extingais o Espírito.” (1Tess 5:19)
Na verdade, os textos bíblicos estão repletos de recomendações sobre o risco de um cristão perder a salvação, forçando-o a compreender isso, a sair da zona de conforto e da dormência espiritual, onde o pecado está à espreita, exortando-o a uma vida casta e santa, desejando que:
“E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” (Ef 4:24)
É uma ordem ser santo:
“Porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.” (1Ped 1:16)
Sendo ordem, temos o dever de nos esforçar nessa direção, tendo verdadeiro horror ao pecado que tão de perto nos rodeia. A Palavra de Deus ordena que sejamos irrepreensíveis em santidade.
“… para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai…”.
(1Tess 3:13)
Não basta apenas dizer eu creio em Deus, esta é uma condição necessária, mas não suficiente, pois crer em sua existência, até mesmo os demônios creem (Tiago 2:19), e a proposta do cristianismo não é uma mera teoria baseada em conhecimentos de fatos históricos e bíblicos, mas, sim, uma prática viva e transformadora. É preciso que, além de conhecermos as Escrituras, vivamos a Palavra de tal forma que ela transforme e purifique todo o nosso ser:
“Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver.” (1Ped 1:15)
Advertimos que o crente em Jesus deve andar em santidade e justiça da Palavra de Deus e não deve folgar com o mundo caído.
Tomemos por exemplo a carta aos Hebreus (2:1, 6:4 a 8, 10:26 e 10:32), pois o texto dessa epístola é cristalino e objetivo. Nele está uma advertência aos cristãos no tocante à gravidade da condenação que resultará, por exemplo, de uma recaída espiritual por quem foi iluminado, provou o dom celestial, participou do Espírito Santo, provou a boa Palavra de Deus, e as virtudes do século vindouro.
Esses que assim procederem não conseguirão se arrepender de seus pecados, ficando, por conseguinte, impossibilitados de serem regenerados, visto que arrependimento é pré-requisito doutrinário, necessário e inquestionável para a salvação. (Mc 2:17 e 6-12 – Lc 5:32 e 13:3 a 5 – At 3:19; 11:18 e 17:30 – 2Cor 7:10 – Heb 6:6 e Apoc 2:5, 2:16, 2:21, 3:3, 3:19, 9:20, 16:9 e 16:11)
Concluímos, exortando a irmandade a se purificar de tudo o que contamina, de tudo o que mancha as vestes espirituais, relembrando aos caros irmãos o clamor bíblico:
“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Rom 12:1)
“… para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.” (Heb 12:10)
Vossos irmãos em Cristo,
O Conselho de Anciães